A criminalização dos gastos sociais e a farra do capital financeiro

A criminalização dos gastos sociais e a farra do capital financeiro
Salvador Dalí, Carmen canta músicas ciganas (1970).

Por Vinícius Machado, em 06 de junho de 2025.

Na última semana, a mídia neoliberal tentou criminalizar a reestruturação das carreiras e o reajuste dos servidores federais, alardeando um suposto “impacto” de R$ 74 bilhões nas contas públicas. A intenção é clara: induzir os trabalhadores a acreditarem que há um rombo nas despesas primárias causado, entre outras causas, por uma alegada “gastança” do funcionalismo público.

O que essa mesma mídia esconde é que, no final de maio, o Banco Central (BC) divulgou em seu boletim periódico que o volume total de juros pagos aos detentores dos títulos da dívida pública, apenas no mês de abril, chegou a R$ 70 bilhões. Isso equivale a um gasto de R$ 3,3 bilhões por dia útil. No acumulado dos últimos 12 meses, o valor desembolsado com juros atingiu R$ 928 bilhões. E, a cada aumento de um ponto percentual na Taxa Selic, esse gasto cresce em cerca de R$ 50 bilhões.

Quando falamos das despesas do Estado, elas se dividem em duas categorias: gastos primários e gastos financeiros. Os gastos primários são destinados a áreas essenciais como saúde, educação, previdência, ciência e tecnologia, entre outras. Já os gastos financeiros referem-se ao pagamento dos juros da dívida pública — recursos que fluem diretamente para os bolsos de frações da burguesia brasileira e do capital estrangeiro.

Enquanto a mídia neoliberal promove um verdadeiro terrorismo contra os gastos sociais e pressiona por austeridade e mais cortes, os gastos financeiros do Estado seguem livres de qualquer tipo de teto ou controle. O governo, em vez de enfrentar esse problema estrutural, elaborou o Novo Arcabouço Fiscal (NAF), impondo um novo teto aos gastos primários. Além disso, promove uma campanha permanente a favor dos cortes sociais, liderada especialmente por Fernando Haddad e Simone Tebet.

Por isso, somos críticos às políticas de austeridade do governo federal. Elas não passam de uma ferramenta deliberada de transferência de riqueza para os monopólios capitalistas. É preciso enfrentar de forma decidida o problema do rentismo. O Brasil precisa de mais investimentos em áreas sociais — e não de fiscalismo.

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