Esticar a corda à esquerda (os recuos do governo e o combate à extrema-direita)

Esticar a corda à esquerda (os recuos do governo e o combate à extrema-direita)
Vladimir Kush, Nascer do sol no oceano (1996).

Por Vinícius Oliveira Machado, 31 de maio de 2025.

Duas semanas atrás, o governo Lula anunciou um novo pacote de austeridade. A contenção de gastos públicos é da ordem de R$ 31,3 bilhões, o que representa 15% do orçamento primário, sendo R$ 10,6 bilhões em bloqueios e R$ 20,7 bilhões em contingenciamentos. Esses cortes são do orçamento discricionário, ou seja, aquilo sobre o qual o governo tem controle e pode cortar, diferentemente, por exemplo, dos pisos da saúde e da educação, que são obrigatórios.

Simone Tebet e Fernando Haddad apontam o BPC e a Previdência como "culpados pela gastança", isto é, a classe trabalhadora mais pobre. Para compensar os cortes, o governo enviou ao Congresso a proposta de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para arrecadar R$ 20,5 bilhões em 2025 e cumprir as metas fiscais de superávit.

Previsivelmente, as classes dominantes pressionaram o governo contra a parte do IOF das operações dos fundos financeiros que aplicam recursos da burguesia brasileira no exterior, e o governo recuou. Agora, Hugo Motta e Alcolumbre ameaçam barrar todo o aumento do IOF e defendem mudanças estruturais que são incompatíveis com o arcabouço atual, como acabar com os pisos da saúde e da educação, pois o limite de gastos sociais se choca com os gastos obrigatórios dessas duas áreas e outras.

A aposta estratégica da maioria da direção do PT em gerir os interesses das frações da burguesia brasileira, em especial os interesses dos banqueiros (FEBRABAN), e do capital estrangeiro, para preservar a "governabilidade" e a "estabilidade institucional" está chegando ao limite, pois tem gerado recuos de todo tipo. Até quando essa estratégia será viável? As ameaças estão aumentando.

Os movimentos sociais não devem ficar reféns dessa estratégia, pois isso pode abrir caminho para o avanço da extrema-direita. Se os bolsonaristas, a direita neoliberal e a burguesia pressionam para um lado, as organizações da classe trabalhadora devem pressionar para o outro. Por isso, é fundamental manter a independência de classe e a liberdade de crítica para fazer exigências e esticar a corda com uma agenda de esquerda.

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